terça-feira, 14 de outubro de 2008

Comunicação: a virtude e os transtornos do diálogo

A comunicação é a grande diferenciação do ser humano com demais sociedades, o que define como organização baseada na presença de cultura. Uma das principais ferramentas para a formação da sociedade, do desenvolvimento do homem no decorrer do tempo, a transferência de tradições, credos, leis e demais só é possível pelos meios de comunicações. O que para alguns estudiosos, como Mac Luhan, que define estes meios como extensões do homem, isso é confirmado quando se observa que a comunicação é a principal ferramenta das relações existentes no cotidiano, e a influência de uma para outra é notável.
Os processos comunicacionais são objetos de estudo no decorrer dos séculos, tanto na forma fisiológica, estrutural, história, até mesmo na relação que cada uma dessas esferas transforma as relações do homem com o homem, e do homem e a sociedade em si. As mudanças tecnológicas de fato também transformam o ser humano, o imediatismo da informação, os novos recursos, mas tecnologia alguma ou qualquer influência de poder, como em casos de ditaduras, mudou a relação existente de virtude e transtorno do diálogo.
Um dos lugares em que isso é facilmente notado, um ambiente hospital, um consultório, o lócus, de um lado o emissor, o profissional em constantes desafios e dualidades, de outro lado o receptor, alguém que necessita de muitas coisas, mas entre todos os questionamentos a necessidade de uma resposta, apenas uma que ele quer escutar, cura!
Profissional – entre todas as lutas, a inconstante da vida
Doenças generativas certamente devem ser as que mais revelam os desafios das comunicações entre estes dois campos, os profissionais, médicos, enfermeiros, entre outros, pacientes, familiares e seu mundo. O câncer está aí uma doença que ainda revela a fragilidade do ser humano diante ao inesperado, diante ao caos, diante aos muitos desafios.
Apesar da evolução da medicina, e da postura cada vez mais humanista dos médicos, a doença ainda traz muitos desafios, talvez o maior, o processo comunicacional. Há sim muitos avanços, tratamentos e procedimentos que não só tem trazido longevidade, cura ou até mesmo mais conforto a paciente e família, já que é uma doença que se figura em toda ambiente familiar e afetivo, o estado do paciente traz comoção e referência.
O diagnóstico continua assustar, pois ainda é uma doença com alta taxa de mortalidade, e que tem talvez um dos tratamentos mais longos e dolorosos. E talvez aí esteja o maior desafio entre médico e paciente, ou mesmo médico e família. O médico tem o compromisso ético de informar o paciente do seu real estado, mas tem muitas vezes em mente que o reflexo psicológico desta informação pode comprometer completamente o processo do tratamento; além de que jamais pode tirar a expectativa de vida do paciente, já que essa varia de acordo com cada paciente.
Entre os corredores do hospital, nos consultórios, olhando de leve, talvez não sejam perceptíveis os muitos desafios enfrentados pelos pacientes, porque diante as muitas barreiras entre os especialistas e os que ali necessitam está o envolvimento pessoal do profissional, que tem consciência de que em muitos casos não há se quer resposta para ser dada a não ser o cuidado para que se tenha pelo menos qualidade de vida, quando essa está por um fio.
O medo de não saber o que está acontecendo contigo mesmo

Talvez o pior sentimento que um paciente precisa enfrentar é as constantes mudanças que a doença causa ou pode ocasionar, e muitas vezes a falta de informação diante a isso é tão depressiva quanto às todas as reações psico-sintomáticas da enfermidade. O paciente busca com ansiedade respostas, caminhos e em muitos casos o seu meio não está preparado para tais, já que ninguém do seu círculo afetivo se prepara em seu cotidiano para enfrentar tais situações, de outro lado os profissionais em demais desafios vivem, dentro da atual realidade, sobrecarregados, mental e fisicamente tão despreparados, ou mesmo por autodefesa se distanciam ou se anulam diante os muitos fatos vividos pelo enfermo e os seus entes queridos.


O que responder a uma pessoa que têm constantes questionamentos, estes maiores muitas vezes que suas próprias esperanças, diante do estado crítico que enfrenta posição que o impede até de perguntar? O que dizer a uma pessoa que necessita escutar o que talvez seja impossível de dizer? Até onde vai a vontade própria e o respeito a essa quando a doença levou do paciente a vontade de lutar e o continuar de um tratamento? Entre todos os efeitos colaterais de uma enfermidade como o câncer para um paciente talvez o mais doloroso sejam os questionamentos, o medo de não ter respostas e destas não chegar ao seu real objetivo, mais do que se sentir enganado, ou muitas vezes invadido.

Porque diante todo o processo, esse que em muitos casos podem ser longos, a invasão pode acontecer tanto no ambiente familiar, hospitalar, entre outros. A pessoa pode sim está em um estado degenerativo, talvez terminal, e nessas horas em alguns casos o desespero pode levar a muitas situações, tantos de atitudes impensadas ou drásticas, ou mesmo quando o paciente se vê anulado ou mesmo suas vontades anuladas para que outras vontades alheias, ditas como as melhores para ele sejam colocadas. O caos da comunicação pode surgir exatamente nos primeiros momentos, ainda num diagnóstico errado, ou mesmo pelo despreparo profissional ou insensatez deste, de entregar um caixão em vida a um paciente quando ele ainda respira.
A importância de uma palavra ou de uma qualidade de vida para o paciente é tão primordial quanto um remédio e procedimento de alta qualidade. Porque é deste processo que talvez seja o caminho mais difícil para um profissional de saúde, que não tem todas as respostas, a não serem tratamentos paliativos, que tem inúmeros números e nomes, sistemas que muitas vezes são precários, que possui em seu cotidiano tantas constantes ao ponto de talvez a melhor defesa seja fazer o melhor, mas saber que todos ali talvez tenham o mesmo caminho.
Os desafios são imensos porem superáveis quando o mais essencial para um processo de comunicação é colocado em prática, porque o processo comunicacional se estende quando se há preocupação e assimilação com o outro. Em muitos casos realmente o médico não pode dizer para o paciente que ele vai ser curado, mas pode dizer que ele vai muito bem diante aos fatos, que vai respirar melhor ou mesmo um sorriso vai tirar da lembrança uma das mais insuportáveis companhias, a dor! O remédio não cura por si só ...