quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Caóticos cárceres - Editorial Jornal O Popular

A saturação das celas dos distritos policiais de Goiânia, assim como das Delegacias de Capturas, da Mulher e de Investigação de Homicídios, chegou a um ponto caótico infernal. Esses locais de detenção tornaram-se foco de tensão e de risco de motins e fuga, além de muito perigosos para a vizinhança de cada um deles.

Imagine-se cela com capacidade para receber não mais que 8 detentos e, não obstante, abrigando 36 presos. Como conter a violência com esta ocupação absurda?

A sociedade tem de cobrar providências que revertam essa situação de colapso e que também desvirtua a finalidade das celas de delegacias e distritos policiais, que deveriam funcionar como central de flagrante, recebendo os detentos apenas em caráter preliminar.

Goiânia não é uma ilha isolada da situação carcerária brasileira, tão atrasada em relação a outros países, verdadeiro mau exemplo de como se deve lidar com prisioneiros. Mesmo levando-se isto em conta, é preciso cobrar iniciativas que aliviem a situação e investimentos que elevem a capacidade da Casa de Prisão Provisória e do complexo penitenciário de Aparecida de Goiânia.

A situação explosiva que se criou acarreta ameaça de confrontações dramáticas, das quais poderão ser vítimas detentos e os agentes policiais encarregados da vigilância nesses distritos policiais. Há, portanto, impositiva urgência nas providências que precisam ser tomadas.
Observação - O Editoral do Jornal O Popular, do dia 28 de janeiro, narra e questiona apenas um dos problemas enfrentando pelo Sistema Prisional do estado de Goiás, que inicia desde a coleta de provas e evidências de crime, e a contastação desses. A Associação que representa os peritos no estado denunciou e pediu ajuda, com prédio novo, equipamentos novos, a área não passou por avanço de pessoal, mesmo com o crime aumentando no estado o número de pessoal não só no Instituto de Criminalística como em outras áreas continuam no mesmo quantitativo, trabalhando excessivamente, muitas vezes em situações precárias, correndo riscos junto com suas famílias, sem aperfeiçoamento profissional e sem aumento salarial, pelo contrário, em alguns casos, cortes de benefícios. Em todas as questões o Sistema Carcerário está em crise, super lotado, assim como estão super lotadas as Varas com processos que demoram anos para serem desvencilhados, assim como estão lotadas escolas que não podem oferecer vagas para o ensino básico, estão lotadas praças com traficantes e usuários de drogas ao invés de ser pontos de cultura e lazer. Estão lotadas os instrumentos de reeducação do cidadão para que esses sejam reentregues a sociedade, mas estão lotados os mecanismos de educação do cidadão para que ele fique longe do crime, ou da porta de entrada, como as drogas.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Uma entrevista especial e exclusiva com Rui Barbosa

Em meio há grandes transformações sociais e políticas que andam surgindo no Brasil, seria muito louvável pedir a opinião sobre os novos rumos dos acordos e da política nacional para um dos maiores literários e políticos que o Brasil já teve, Rui Barbosa. Baiano, nascido em 1849, o escritor morreu em 1923, foi também jurista, jornalista, deputado, senador e por duas vezes candidato a presidência da Republica, um dos maiores defensores do Abolicionismo, do Federalismo, sendo um dos grandes do surgimento da Republica no país, além de trabalhos memoráveis na literatura brasileira, ocupando lugar de destaque na Academia Brasileira de Letras, e na Diplomacia Brasileira mostrou-se um grande nacionalista.




Marcela Aires – Estamos vivendo sim uma grande revolução na língua portuguesa, um novo acordo ortográfico foi aprovado, talvez um grande aparato diplomático que enfim unirá a “Flor de Lácio” em todas as nações, incluindo Portugal. Isso mesmo a língua portuguesa passa por uma nova transformação, agora não apenas motivada pelos bate-papos e manias da Internet ou pelo despreparo e cegueira das instituições de ensino. E o que o senhor acha dessa renovação?


Rui Barbosa - A degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo desvirtuamento da própria língua. O ensino, como a justiça, como a administração, prospera e vive muito mais realmente da verdade e moralidade, com que se pratica, do que das grandes inovações e belas reformas que se lhe consagrem. Uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida


Marcela Aires – Então o senhor acha que todas essas mudanças, sejam negativas ou positivas, que tem ocorrido é conseqüência direta das ações sociais, seria de forma uma revolução? De tão certo isso também comprova a destruturação e o surgimento de ações corruptíveis na política, e o conformismo social diante esses acontecimentos?


Rui Barbosa - De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. Quem não luta pelos seus direitos não é digno deles.


Marcela Aires – Então o senhor acha que mais do que brigar pela igualdade é necessário um resgate de valores nacionalistas e na política e necessário uma participação popular, mais do que uma crítica desgastante, como anda ocorrendo ? Como a imprensa pode contribuir para este resgate da identidade da política e da língua portuguesa na sociedade ?


Rui Barbosa - A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa, e se acautela do que ameaça. E uma raça, cujo espírito não defende o seu solo e o seu idioma, entrega a alma ao estrangeiro, antes de ser por ele absorvida.


Marcela Aires – O Brasil que já foi marcado por grandes rupturas a dignidade humana como a escravidão que arrastou por séculos, que marca a história por navios negreiros, senzalas, entre outras atrocidades, hoje se destaca por ter nas grandes cidades a violência que atinge principalmente os jovens, e muitas dessas praticadas por instituições que teriam o dever cívico de proteger, até o exercito, órgão utilizado na defesa da soberania nacional, hoje é vinculado para defender o Brasil dos brasileiros. Qual é a sua opinião sobre isso ?


Rui Barbosa - Nenhum povo que se governe, toleraria a substituição da soberania nacional pela soberania da espada. Na paz ou na guerra, portanto, nada coloca o exército acima da nação, nada lhe confere o privilégio de governar. Não se obtém a paz, senão aparelhando a paz. Si vis pacem, para pacem. Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência. Se os fracos não tem a força das armas, que se armem com a força do seu direito, com a afirmação do seu direito, entregando-se por ele a todos os sacrifícios necessários para que o mundo não lhes desconheça o caráter de entidades dignas de existência na comunhão internacional.





Observação: Um pouco de muuitas frases realmente proferidas por Rui Barbosa



Trunfos do jornalismo humanista - Alberto Dines


Como cobrir guerras sem provocar outras? Como descrever os resultados do ódio sem aumentá-lo? O grande desafio do jornalista em zonas de conflito é pormenorizar o horror para acabar com o horror. Tarefa sobre-humana: impossível ignorar sentimentos, preferências, preconceitos ou fingir objetividade diante da dor.

Jornalistas não são máquinas de escrever. As guerras contemporâneas são conjunto de batalhas, geralmente curtas, grande é a rotatividade dos enviados às frentes de combate. Todos mais ou menos novatos, veteranos tentariam ser mais frios, o público quer sentir as emoções do terreno.
O fator de equilíbrio é o veículo. Cabe ao jornal, revista, rádiojornal, telejornal ou portal de internet abrigar e comparar divergências, somar pontos de vista, exibir o amplo espectro da controvérsia. Juntar interpretações – geralmente encontradas a boa distância das ocorrências – com as vivências in loco. Veicular opiniões e colocá-las a serviço da racionalidade.

Se as partes não oferecerem um mínimo de credibilidade, o conjunto ficará claudicante. O jornalismo é um processo orgânico e não uma colcha de retalhos, desigual.

Sessenta anos

As edições dos jornalões de referência nacional da segunda-feira (5/1) ofereceram um mostruário deste jornalismo múltiplo, pós-individual. Com o feriadão do fim de ano e a invasão da Faixa de Gaza pelo exército israelense, foi o primeiro dia da guerra plena.

Folha de S.Paulo, Estado de S.Paulo e Globo buscaram o equilíbrio – mostrar os dois lados felizmente virou rotina. Despachar repórteres para a região do conflito também (o Globo serviu-se da correspondente).

A Folha saiu-se melhor, a partir da primeira página. Arrasadora, aquela imensa imagem negra, enlutada, e, no canto, as lágrimas correndo no rosto da menina palestina (foto de Ismayil Zaydah/Reuters). A longa chamada dividida em tópicos oferece ao leitor (provavelmente recém-chegado das férias/festas) uma visão ampla desta nova batalha da Guerra da Palestina, a mais longa dos séculos 20 e 21 (desde 1948, 60 anos).

Os três diários oferecem praticamente o mesmo espaço (quatro páginas), mas a Folha acrescentou a primeira página quase inteira e a oportuníssima análise de Igor Gielow, de Brasília, na Página 2 mostrando o nonsense da nossa diplomacia.

Além da farta produção dos enviados e correspondentes, os três selecionaram excelentes textos de grandes jornais internacionais (a Folha serviu-se do Financial Times, o Globo usou Washington Post e Independent, o Estado preferiu as agências de notícias).
Partido da racionalidade

A diferença, a grande diferença a favor da Folha foram as entrevistas da última página do primeiro caderno (A-10) com dois lúcidos especialistas: o palestino Bashir Bashir, que leciona na Universidade Hebraica de Jerusalém, e o israelense Eyal Zisser, da Universidade de Tel-Aviv.

Aqui fica visível o que acima foi designado como "fator de equilíbrio", o trabalho de edição, a orquestração. De nada adiantariam entrevistas com delirantes adversários. O leitor ficaria mais confuso, mais vulnerável às simplificações e, sobretudo, ao ódio.

A maestria – a função social do jornalismo – exibiu-se na escolha de dois expoentes da cultura regional. Teoricamente em guerra, divergentes, o palestino e o israelense mostraram como é possível produzir aproximações. Mostraram também o quilate das respectivas elites, o potencial de bom senso e sofisticação cultural ao lado daquele enorme barril de pólvora.

Cobrir uma guerra mostrando como a guerra é insensata, absurda; cobrir uma guerra tomando o partido da racionalidade é um dos trunfos – triunfo – do jornalismo verdadeiramente humanista, tão fácil de entender, tão difícil de praticar.